O assunto desse vídeo é um dos mais antigos jogos dessa pátria gaúcha: O jogo do osso! Antes da gente começar esse vídeo já vai um dos avisos mais importantes: A mesma tava bota culo e também sorte. Então prepare o teu mate e vem comigo, che.
O jogo do osso é muito presente na cultura gaúcha, não só no Rio Grande do Sul, mas também na Argentina e Uruguai. Provavelmente esse jogo desembarcou por aqui com os espanhóis, mas os primeiros registros se dão na volta de 1620.
Só que a sua origem é ainda mais antiga, estima-se que lá pras banda da Ásia e na região do antigo império Persa, esse jogo já era jogado há mais de 2000 mil anos, os árabes se referiam a esse jogo como LAB-EL-KAB e a peça, o osso era KA-BA.
Justamente por isso que jogo do osso também é a chamado de jogo de tava ou taba, aí varia devido a pronúncia castelhana.
E pra quem nunca viu a peça, a tava é um osso que é retirado do garrão do boi e o nome desse osso é astrágalo ou tálus, que um osso da base da pata bovina.
Pra se conseguir uma boa tava pra se jogar, conta a tradição que é preciso ‘curar’ o osso, deixando ele enterrado por cerca de dois ou três meses. Também é comum colocar ele na boca de um formigueiro pra que as formigas limpem por completo os resíduos organicos da peça.
Depois de curado, o osso recebe duas chapas, uma de ferro escura que é o culo e outra brilhante geralmente de bronze, que tem uma marca em S ou algum outro detalhe, que á a suerte, a sorte.
Para registro, é importante dizer que o MTG em seu Regulamento de Esportes Tradicionalistas do Estado do Rio Grande do Sul, tem as regras para o jogo da tava, que são voltadas a competições oficiais. Já nos bolichos da vida, o jogo é dado de uma maneira diferente, pois envolve sempre algumas apostas.
Nas regras do MTG, o jogo pode ser disputado em equipes ou individualmente, onde é somado os pontos dos arremessos em cada parada.
E parada é como é chamada as disputas. Cada forma que a tava pousa na cancha tem uma certa pontuação. Já nos bolichos, o jogo é feito por rodada e vou explicar mais a frente.
As canchas pro jogo do osso, tem entre 7 e 9 metros de comprimento por 2 de largura e nas duas extremidades tem o picador onde a terra é mais úmida e ali ao centro tem a bacia, que é onde a tava aterrisa.
Cada gaúcho tem a sua técnica e o seu jeito de arremessar a tava. E o que conta os pontos é justamente a posição que a tava cai no solo. As duas mais conhecidas são a suerte e o culo, mas além dessas temos mais 6 posições.
- Sorte ou suerte é quanto a parte brilhante, a parte de bronze virada pra baixo.
- Culo é quando a parte escura cai virada pra baixo.
- Sorte clavada é quando a parte de bronze fica pra baixo, só que cravada no chão com uma das pontas fincada.
- Da mesma forma, tem o culo clavado.
- Pode acontecer também de a tava não cair com os lados ferrados pra cima, aí é chamado de gueso ou simplesmente osso.
- Caso ela cair na vertical, pode ser chamada de toro ou osso também.
E todo o jogo nos bolichos tem um Coimeiro, que é quem vende e troca as fichas de apostas do jogo. E também cobra a ‘coima’ que é a gorjeta, o cafife do jogo.
Che o coimeiro é quem dá início as paradas, como se fosse o mestre sala da lida. Ele canta os valores iniciais e chama quem quer apostar. Quando se fecha o duelo, o coimeiro diz: Tá copada a parada! Vale jogo.
Aí os competidores atiram as tavas até alguém acertar dois lances positivos seguidos, tem que abrir o 2×0. O peão tem que ter duas suerte, contra dois culo do oponente. Caso o jogo der empate, o termo utilizado é senão. É bem comum partidas irem longe devido a vários “senões” seguidos.
E o coimeiro só paga a parada pro vencedor depois que desconta a sua coima, a sua comissão.
E tem um termo que aposto que tu já ouviu, que é “COPAR” e não tem nada haver com futebol, isso acontece quando um dos competidores abandona a cancha, aí alguém de fora entra no lugar e larga um “Copei a parada!” Então quem copava a parada, assumia o jogo a partir daquele momento.
E uma outra coisa interessante é que se tu tivesse jogando no campo aberto e a tava batesse em alguma pedra, raiz de árvore ou rolasse de carretão, nada disso invalida o arremesso. Segue a parada e aguente o resultado.
E como em todo o jogo, tem os calavera, os veiaco, aqueles que gostam de trapacear. E na tava essas trapaças são chamadas de trampas. As mais conhecidas são cargar a tava, que é como viciar ela, alterar para que ela sempre caia na mesma posição. Geralmente era colocado um eito de chumbo dentro da tava.
Também tinha uns bolicheiro que davam uma mexida no barro, faziam um buraco e enterravam um pelego com o pelo pra cima. Desse jeito era impossível dar sorte clavada, pq como o pelego é fofo, a tava pulava mais que deveria.
E da mesma forma que tem as trampa, tem as mandingas, as superstições do jogo como cuspir na tava antes de jogar pra espantar o azar e também esquentar as mãos, pq “mão fria não bota sorte!”
Outras expressões bem comuns são: “Louca também se casa!”, que é quando o peão atira de carretão e dá suerte. E uma das que eu mais gosto é: “Não é só butiá que dá em cacho!”, que é usada quando o vivente acertar umas par de suerte seguidas.
E deixo uma dica pra vocês ouvirem a marca “Clavada” do Leonel Gomez. Onde ele narra o jogo de tava e usa muitas expressões e no refrão ele larga ainda: “Se vai a alma no osso, depois que o osso se solta.”