Tu já deve ter ouvido em alguma música ou poesia o termo  biriva ou biriba. Mas tu sabe quem foram esses birivas e quais as contribuições deles? Então antes de irmos pros causos, eu vou preparar o meu mate e tu vai ver se já tá inscrito no Youtube.com/LinhaCampeira e ativar o cincerro da égua madrinha das notificações. E já dê aquele bueno bem caprichado nesse vídeo.

Primeiramente quero deixar bem claro que este conteúdo é introdutório ao tema e contém uma série de simplificações a respeito do assunto, pra que se possa entender melhor quem foram os birivas.

Então trocando em miúdos os birivas eram tropeiros, ou melhor os descendentes dos tropeiros e bandeirantes e habitavam a região dos Campos de Cima da Serra.

Os birivas eram facilmente distinguidos dos gaúchos da campanha e fronteira, devido a sua aparência que já era mais mesclada.

Encontrei 3 origens para o termo biriva. A primeira vem de Biribá, fruto do biribaseiro, do tupi Mbiruya, que é uma fruta parecidita com um ariticum, nona ou fruta do conde.

A segunda é provém de outro termo tupi mbi’ribi, que significa pequeno, pouco. Já a terceira é que biriva remete a uma planta que era muito comum nas matas do planalto serrano e como os birivas eram homens que habitavam essa região do mato, receberam essa designação.

Encontrei bastante referências aos birivas como povo ‘do mato’, principalmente em menções referentes aos ditos pelos gaúchos da campanha. Pois bem sabemos que o pampa é um campo aberto, enquanto os campos de cima da serra são regiões de relevo mais acidentado e com mato fechado.

Vale salientar que o termo biriva, não era usado de forma pejorativa. Era honroso ser chamado de biriva justamente por serem campeiros corajosos, destemidos e que faziam um serviço muito puxado.

Os Birivas se distinguem do gaúcho pampeano pois a sua matiz é diferente e as lidas diárias o moldaram assim. São diferentes na metodologia de seu trabalho rural, no encilhar o cavalo, no modo de falar, na maneira de cantar, dançar, alimentar e até mesmo nos trajes.

A principal atividade dos birivas eram as tropeadas de mulas. Pra tu ter ideia, faziam em média 25 km por dia, e ainda com animais carregando em cestos e bruacas até 100kg de produtos. Essas mulas eram tropeadas a gritos, assobios e os trajetos completos chegavam a 2.500 km. 

Essas tropeadas birivas tinham a finalidade de abastecer com mulas e outros animais o centro do país, principalmente pra Feira de Sorocaba que era o principal mercado. Dá só uma olhada nesse mapa aqui com os principais caminhos que os tropeiros faziam. 

Era chão que andavam, né?! E nesses caminhos de tropas, diversas cidades nasceram e até hoje carregam o DNA biriva em suas ruas e no seu povo. Essas cidades eram geralmente os pousos de tropa, onde os tropeiros pernoitavam. E aí tu sabe como é, surge um comerciozinho aqui, outro ali, em alguns anos tá feita a vila e assim por diante.

Por terem uma lida única, os birivas apresentavam trajes bem únicos e cheios de influências pois eles viajavam muito e tinham contato com muita gente. Mas basicamente o traje dos birivas tropeiros era composto da seguinte forma:

Na cabeça chapéus de feltro ou de palha com copa e aba larga, presos ao queixo por barbicachos; Ao pescoço lenços folgados;

Usavam camisa e uma véstia, que é tipo um casaco aberto, mais curto ou também um colete. Por cima Poncho e pala para proteção contra o tempo; 

Usavam ceroulas e chiripás presos por uma guaiaca e geralmente essa guaiaca tinha muito bolsos e eram bem recheados. 

Nos pés tinham botas mas só que mais compridas, quase do tipo russilhona, que vinham até as coxas para proteger do frio e do molhado. E calçavam esporas com rosetas nazarenas.

Do trajar biriva, a principal herança que se firmou na atual indumentária gaúcha sem dúvidas foi a guaiaca, que surgiu com eles pela necessidade de carregar os avios juntos. E a guaiaca era recheada porque geralmente carregavam dinheiro pra fazer os negócios além de sempre estarem armados, com facões, porretes, garruchas, pois sempre estavam na estrada e bem sabemos que nessa época a justiça andava na cintura, né tche.  

Como os birivas viviam praticamente na estrada, posando em acampamentos entre o povoado e sem doce presença feminina, pois o trabalho de tropeiro era uma tarefa física, cansativa e muito desgastante. 

E quando os birivas paravam pra descansar por um tempo, ao pé de um fogo de chão, entre  um assado, um carretiro, feijão mexido e uns gol de vinho, sempre tinha alguém com uma viola pra cantarem e também dançarem. 

E as danças que são de origem biriva eram danças onde um peão desafiava o outro pra mostrar quem era mais habilidoso. Por isso eram utilizadas coisas que eles tinha por perto como facões, porretes e sapateio.

E foi o Paixão Cores que fez o resgate dessas danças, que são: O fandango sapateado, o Chico do Porrete, a Dança dos Facões e a Chula.

Então como bem podemos ver, os birivas foram muito importantes para o desenvolvimento do sul do Brasil entre o século 17 e o início do século 20, pois conduziram as tropas que transportavam a riqueza produzida além de terem influenciado o surgimento de diversas cidades ao longo dos caminhos de tropas.

Comentários
  1. Belo texto e vídeo!
    Meu pentavô, Izidoro Gonçalves Lins, tropeiro, veio de Lapa (PR) para Lages (SC) em meados da década de 1820. Casou e por ali ficou! Meu tetravô, José, nasceu em Lages em 1835 e esse sim, um verdadeiro biriva! Se aventurava pelos campos de cima da serra entre a Coxilha Rica (SC) e os Campos da Vacaria (RS)! Já seu filho, Aureliano, meu trisavô, não ficou na lida tropeira em viagens. Era criador (cavalos e mulas)! Casou e se estabeleceu em Campo Belo do Sul (SC), na época ainda pertencente a Lages. Já meu bisavô, Celestino, era industriário, fiscal da Estrada de Rodagem Estreito-Lages, a atual BR-282, e se estabeleceu em Bom Retiro (SC). Meu avô, Anisio, exímio cavaleiro, deve ter herdado a habilidade dos antepassados tropeiros! Já meu pai, Álvaro, chegou a ser jóquei naquelas famosas corridas no interior! E hoje estou por aí, nesse mundão “véio” de meu Deus! Sete gerações de “Gonçalves de Lins”!

  2. Muito interessante! Procuro a origem do meu avô paterno, que era tropeiro da região dos Campos de Cima da Serra (mais especificamente Aparados da Serra, hoje município de São José dos Ausentes) e que trabalhava com cargueiro de mulas na região de Praia Grande (SC). É somente isso que eu sei a respeito dele, falecido na década de 40. Vou pesquisar mais!

    • Olá César, comece procurando pelo site FamilySearch. O site disponibilizava inúmeras certidões de nascimento/batismo, matrimônio e óbitos!

  3. Boa, Taura.

    Os birivas são os tropeiros Paulistas que foram se estabelecendo pelo caminho entre São Vicente e as fronteiras do Rio Grande. São mais de 200 anos de cultura permeada e absorvida entre o sul da Bahia e o extremo sul do RS.
    É muito satisfatório ver como alguns pontos da cultura gaúcha tem laços com a cultura da paulistânia.

    Abraço

  4. Muito bom o relato sobre os Biribás, sendo que deixo um questionamento sobre a cidade de Vacaria, ser ou não originária do tropeirismo Biriba? Desconfio que minhas origens paternas repontam aos Biribás, por isso o sobre nome Moraes, pode ser uma prova disto?

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