Sabe que Timbre de Galo é uma música que nasceu pra ser do Pedro Ortaça. Não tem como a gente imaginar outro cantor cantando ela… do jeito que ele canta e com a representatividade que ele traz a ela.

Esta música é uma parceria do Apparício Silva Rillo que fez os versos especialmente e entregou pro seu amigo Pedro Ortaça pra musicar, que conta que pegou o violão, deu umas batida e uns acorde e fez a melodia num upa.

Ela apareceu pela primeira vez no épico disco Troncos Missioneiros, que juntou Jayme Caetano Braun, Cenair Maicá, Noel Guarany e Pedro Ortaça no ano de 1988. Era a música número 1 do Lado B.

Originalmente esse poema tinha o título “Como sou”, mas só que depois do Pedro Ortaça ler, interpretar e musicar, sugeriu ao Rillo que mudasse o nome pra Timbre de Galo. E parece que o Rillo acatou a sugestão e deu certo.

Rio Grande, berro de touro / Quatro patas de cavalo
Quem não viveu este tempo / Vive esse tempo a cantá-lo
E eu canto porque me agrada / Neste meu timbre de galo

Este verso ele já abre apresentando que a poesia musicada ela é saudosista e lembra que grande parte da história do Rio Grande é baseada a berro de touro e a pata de cavalo.

Quem canta essa música, de certa forma, volta a viver e a sentir aqueles tempos do Rio Grande primitivo. E canta num timbre de galo, porque o um dos apelidos do Pedro Ortaça é Galo Missioneiro.

É verdade que alguns dizem / Que os tempos de hoje são outros
Que o campo é quase a cidade / E os chiripás estão rotos
Que as esporas silenciaram / Na carne morta dos potros

O campo é quase a cidade, é uma consideração de que hoje a vida se urbanizou e mesmo quem vive no campo já não tem mais toda aquela plenitude de viver pra fora. Isso que a música foi escrita no final dos anos 80.

Os chiripás estão rotos. As vestes dos gaúchos antigos estão já rotas, ou seja, estragadas, esfarrapadas… sem uso.

As esporas silentes na carne morta é por que já não se anda mais a cavalo, já não se tem mais o trim de esporas pro sustento das estâncias.

Cada um diz o que pensa / Isso aprendi de infância
Mas nunca esqueça o herege / Que as cidades de importância
Se ergueram nos alicerces / Dos fortins e das estâncias

Cada um dizer o que pensa é uma marca muito forte da música missioneira. Um estilo, um jeito de cantar opinando. Vide os outros troncos missioneiros.

Hereges aqui são chamados aqueles que renegam as origem e não cultuam a nossa história. Então temos que lembra-los sempre que as grandes cidades gaúchas se ergueram dos alicerces das propriedades do campo.

Não esqueça, de outra parte / Para honrar a descendência
Que tudo aquilo que muda / Muda só nas aparências
E até num bronze de praça / Vive a raiz da querência

Aqui é um chasque pra gauchada de que por mais que o tempo mude, a nossa essência continua a mesma. A aparência muda, mas o cerne, o sangue é o mesmo.

E até num bronze de praça é uma referência as estátuas e placas dos heróis e grandes personalidades da nossa terra que estão espalhados por praças em diversas cidades. Quando nos deparamos com um desses bronzes, temos que ter a consciência de que ali há uma história imortalizada e precisa ser preservada.

Eu nasci no tempo errado / Ou andei muito depressa
Dei “ô de casa!” em tapera / Fiquei devendo promessa
Mas se pudesse eu voltava / Pra onde o Rio Grande começa

Nasci no tempo errado ou andei muito depressa, o gaúcho está se perguntando onde é o lugar dele no mundo. Se sente perdido.

Dar ô de casa em tapera, é chamar sem ser respondido ou falar sem ninguém pra ouvir. Taperas são as casas abandonadas pelos rincões e dar ô de casa pro lá, não adianta nada.

O voltar pra onde o Rio Grande começa é voltar pra sua terra, no caso do Ortaça é voltar para o chão missioneiro de onde veio.

E se me chamam de grosso / Nem me bate a passarinha
A argila do mundo novo / Não tem a mescla da minha
Sovada a casco de touro / Com águas de carquejinha

Que gaúcho que nunca foi chamado de grosso, né tche!? ahahah Mas não deixamo isso nos incomodar, ou seja… bater a passarinha é se incomodar com a situação. 

A argila é o nosso cerne, aquilo que nos forma. Do qual somos moldados. Sovada a casco de touro, mostra que tem brutalidade e força. E águas de carquejinha, que é uma planta medicinal, utilizada pra digestão que tem sabor amargo.

Rio Grande, berro de touro / Quatro patas de cavalo
Quem não viveu este tempo / Vive esse tempo a cantá-lo
E eu canto porque me agrada / Neste meu timbre de galo

Comentários
Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *