Hoje vamos falar de um dos apetrechos campeiros mais tradicionais e antigos dos nativos americanos, as boleadeiras.
Pra quem nunca viu, a boleadeira é isso. Composta por 3 esferas, geralmente feitas de pedras bem arredondadas. Essas bolas são cobertas por couro e atada na ponta por um pedaço de trança com cerca de 1 braça.
Essa aqui é o modelo mais tradicional que tem, comprei nas bandas da Argentina… mas também tem outras mais ornadas, com metais como alpaca, prata e até ouro. Dessas as bolas são feitas pedras mais nobres, como granito.
Um fato muito interessante é que a boleadeira é uma ferramenta de lida dos nativos da América há muito tempo. Eu uso o termo nativos do continente americano, porque esse tipo de artefato aparece também na Groelandia e na região do antigo império Inca. Só que as boleadeiras deles eram mais leves e as utilizavam principalmente para caçar aves.
Alguns estudos arqueológicas encontraram artefatos pré-históricos semelhantes na Europa, Ásia e África. E que fique bem claro que pre-histórico não significa da época dos dinossauros, é tudo aquilo que está antes da invenção da escrita, que dá mais ou menos uns 6 mil anos.
Porém os povos que mais utilizaram a boleadeira foram justamente os habitantes da região do Prata, por isso podemos afirmar que é o principal artefato primitivo usado pelos gaúchos para a caça e também como arma de guerra.
A boleadeira teve fundamental importância nas tribos que utilizavam o cavalo como charruas, minuanos, aymarás e guaranis. Isso porque facilitava muito na hora da caça e dos combates.
Porém engana-se quem acha que somente tem boleadeiras de 3 bolas, para a caça e captura de animais, eram utilizadas 3 tipos de boleadeiras, com 1, 2, e 3 bolas.
A de 1 bola, é chamada de bola perdida, geralmente era uma bola um pouco maior, do tamanho de um punho e era lançada com o objetivo de atingir direto na cabeça para nocautear o alvo.
Já a boleadeira de 2 bolas é também conhecida por nhanduzeira, que era utilizada principalmente na caça do nhandú que é a ema. Era jogada mirando as grandes patas do bicho com o objetivo de derrubar o animal para depois sacrificar ele no chão.
Também foi usada nas guerras contra os conquistadores para derrubar os cavalos, se mostrando muito eficaz pois geralmente o cavaleiro que tivesse seu cavalo derrubado estava fora de combate. Porque pense no pealo que o peão levava.
E a boleadeira de 3 bolas, que é a mais conhecida e utilizada pelo gaúcho pampeano foi adaptada a partir da nhanduzeira, pois ela permite uma trança mais eficaz e pode derrubar animais maiores. Foi muito utilizada na caça e captura do gado alçado na época pós-missões.
E pra você utilizar ela, quem vai te explicar é uma grande legenda da terra gaúcha, o Nego Betão. Dá só uma mirada.
Mas que tal, hein, tche. Aí é bueno por demais. E esse tipo de boleadeira de 3 bolas é também chamada de 3 Marias, em alusão as 3 estrelas da Constelação de Órion. Como muito bem retratada na música Pilchas, de composição do Luiz Coronel e Airton Pimentel: Atirei as boleadeiras contra a noite que surgia. Noite adentro, entre as estrelas, se tornaram Três Marias.