Tu sabe a diferença entre quarto de ronda e ronda redonda? Esses dois temos aparecem em diversas músicas gauchas, vou pegar um exemplo do Telmo de Lima Freitas e outro do Mano Lima.

Quarto de ronda aparece na música Cantiga de Ronda do Telmo de Lima Freitas e diz o seguinte:
Faz me lembrar de uma feita num quarto de ronda
Quando eu cantava em silêncio pra o gado escutar

E Ronda redonda em Dom Santana, do Mano Lima, da seguinte forma:
Escolhe um canto pra ronda de preferência
Se não tiver paciência, é ronda redonda

Rondar o gado é cuidar dele a noite, mas eu não sabia de todos os detalhes, aí passei um chasque pro parceiro Osmar Ransolin, da Confraria do Tropeiro que sabe muito a respeito da história dos tropeiros e ele me ajudou nessa pegada.

Então antes de irmos pro significado dos termos, vamos entender como era uma tropeada de gado. E o termo gado não se refere somente a bois e vacas. Gado é um conjunto de animais, por isso temos gado bovino, gado ovino, gado cavalar, gado suíno, gado muar e até gado de bico.

Então a comitiva geralmente saia com 5 peões. Sendo 1 ponteiro, 2 fiadores, 1 culatreiro e mais o cozinheiro.

Algumas tropeadas duravam dias, semanas e até mais de mês em alguns casos. E os tropeiros tropeavam em alguns caminhos já estabelecidos, que inclusive deram origem a diversas BR e rodovias por esse país.

Os tropeiros trabalhavam de sol a sol. Largavam nos primeiros raios de sol da manhã e iam até o anoitecer. Então eles se programavam pra tropa marchar num compasso que desse pra se deslocar até o próximo ‘pouso de tropa’.

Esses pousos que se tinham nas rotas regulares eram abrigos cobertos, currais de pedra ou locais com cercas boas, onde era possível manter o gado fechado e seguro durante a noite. Esses locais eram oferecidos pelos estancieiros e até pelo governo. E isso permitia aos tropeiros uma boa noite de sono e descanso, sem se preocupar com a tropa.

Então na manhã seguinte saíam do pouso em direção ao próximo, só que poderia acontecer alguma coisa no percurso que atrasava o ritmo e aí era necessário posar na estrada e fazer as rondas. Daí é que temos a diferença entre o quarto de ronda e a ronda redonda.
Então, caso os tropeiros encontravam uma área que pudesse ser utilizada para o gado pernoitar, seja num corredor de pedras ou mesmo em uma área de campo de fácil manejo, os tropeiros se revezavam na ronda da tropa.

Eles precisavam fazer essa ronda pra manter o gado calmo e junto. Pra evitar o ataque de alguma fera na tropa e até de abigeatários.

Como geralmente eram 4 peões encarregados da tropa, eles dividiam a noite em 4 partes. Por isso era um quarto de ronda pra cada um. Um rondava e os outros três descansavam.

Só que esse tipo de ronda, quarto de ronda, só era possível se a geografia do lugar desse fácil visualização, e com luz boa, que permitisse enxergar à distância.

Mas nem sempre o céu era estrelado, a lua cheia e o corredor seguro. As vezes tava batendo água, com serração, no campo aberto, aí se tinha que fazer a tal da ronda redonda.

Então os quatro tropeiros ficavam rondando em círculo, em torno da tropa e não tinha descanso pra ninguém. Era a noite toda com os olhos abertos e ouvidos atentos.

As noites de “ronda redonda” eram sinônimos de trabalho intenso e de muito sofrimento para os tropeiros, por que isso comprometia a vigor físico e mental dos tropeiros durante a tropeada.

Comentários
  1. Muito bom esse relato da história dos tropeiro. Fazem com que não se percam
    Os feitos dessa lida dos tropeiros que muito contribuiram pra o desenvolvimento da nossa cultura, onde os caminhos de tropas se tornaram estradas, e cidades onde o progresso e a evoluçao dessas comunidades pujantes que alavancam e são muito importantes nos dias de hoje.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *