“Negro da gaita” é uma milonga, que tem os versos de Gilberto Carvalho e música de Airton Pimentel. Foi apresentada pela primeira vez em 1977 na 7ª edição da Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana.

Quem defendeu Negro da gaita foi Cesar Passarinho e grupo Os Fogoneiros. E como bem sabemos essa música foi a grande vencedora da Linha Campeira, recebendo a Calhandra de Ouro. Cesar Passarinho também ganhou o prêmio de Melhor Intérprete masculino.

Eu queria saber quem eram os integrantes do Conjuntos Os Fogoneiros, porém só consegui descobrir que o gaiteiro do conjunto, o então ‘negro da gaita’ não era negro, o seu nome era o Sérgio Mércio, que devido ao sucesso da canção, começou a utilizar “Negro da Gaita” como seu nome artístico.

Eu localizei um comentário do cantor gauchesco Charles Arce, em uma publicação no facebook onde ele conta que era muito próximo do Airton Pimentel que o revelou que a motivação de compor a música com esse tema da ‘gaita’ partiu de uma provocação do Paixão Cortes, que quando em uma ocasião, havia criticado a falta da ‘gaita gaúcha’ nos palco da California.

E parece que deu muito certo! Negro da gaita não só ganhou a 7ª Califórnia, mas também se tornou um clássico da nossa música gaúcha! Ela foi gravada por diversos artistas como Dante Ramón Ledesma, Joca Martins, Oswaldir e Carlos Magrão, Nenito Sarturi, Alex Hohenberger, Neto Fagundes, o sertanejo Sergio Reis e tem até uma versão feita pela Orquestra Sinfônica de Porto Alegre.

Então vamos dar aquela analisada na letra verso a verso pra ver os detalhes dessa linda poesia.

Mata o silêncio dos mates, a cordeona voz trocada
E a mão campeira do negro, passeando aveludada
Nos botões chora segredos, que ele juntou pela estrada

Nesse verso inicial mostra que a gaita é mais que um instrumento, é como um meio de expressão, uma terapia diária onde sua vida escorre entre as notas.

E aí aparece o termo “Cordeona voz trocada”, que é uma referência à gaita de botão, gaita de duas conversas, gaita de voz trocada. Isso porque nesse tipo de gaita quando tu abre o fole ela toca uma nota e quando tu fecha o fole a nota é outra. Então o som, a voz, é trocada. Há somente 1 botão que o som é o mesmo, é o tal do ponto, por isso é chamada de gaita ponto.

Quando o negro abre essa gaita
Abre o livro da sua vida
Marcado de poeira e pampa
Em cada nota sentida

Esse refrão é incrível! Faz essa relação do fole da gaita com as páginas do livro e com a vida do gaiteiro. Mostrando ali que a poeira e o pampa são a experiência que vem à tona em cada nota que ele toca na gaita.

Quando o pai que foi gaiteiro, desta vida se ausentou
O negro piá solitário, tal como pedra rolou
E se fez homem proseando, com a gaita que o pai deixou

Nesse verso reforça a importância do instrumento para ele. Um legado de família, a lembrança mais pura e profunda que ele tem do seu pai.

E a gaita se fez baú para causos e canções
Do negro que passa a vida, mastigando solidões
E vai semeando recuerdos, por estradas e galpões

E por fim esse verso final mostra que a gaita guarda as lembranças, as aspirações e toda a expressão de vida do negro da gaita.

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