Na história do Rio Grande do Sul, tivemos uma tríade de revoltas. Iniciada com a Revolução Farroupilha, depois teve a Federalista e por fim a de 1923, também chamada de Assisista. Muita gente confunde as duas últimas pois tem algumas coisas em comum, então eu separei alguns tópicos e vou fazer uma comparação entre elas.
A Revolução Federalista ocorreu entre Fevereiro de 1893 a Agosto de 1895. Já a Revolução Assisista aconteceu entre janeiro e dezembro de 1923. Eu vou me referir a essa Revolução como Revolução de 1923.
Na Revolução Federalista eram os Pica-Paus contra os Maragatos, na de 23 eram os Chimangos contra os Maragatos.
Então em 1893, o presidente da província era Júlio de Castilhos e cada estado tinha a sua constituição, logo Castilhos resolveu escrever uma para ser chamada de sua, onde lhe dava fortes poderes, por mais que ele fosse um positivista, acreditava na mão forte do estado para controlar as coisas. Já os maragatos liderados por Gaspar Silveira Martins tinham uma visão mais liberal, de que o ideal seria um sistema federativo onde o estado tivesse mais autonomia, por isso se rebelaram contra o poder imposto da época.
Só que Júlio de Castilhos não contava que ia dar com a cola na cerca tão rápido. Faleceu em 1903 devido a um câncer na garganta. Mas nesse tempo ele havia pavimentado a estrada para o seu sucessor Borges de Medeiros. Que quando estava indo pra assumir o seu 5º mandato como presidente do Rio Grande do Sul, em janeiro de 1923 recebeu forte contestação pois seus adversários políticos como Assis Brasil, acreditavam que as eleições estavam sendo fraudadas. Por isso pediam a sua deposição.
Em 1893 a peleia era pica-paus contra maragatos. Os pica-paus, os castilhistas, usavam roupas militares azuis, com divisas e detalhes brancos (inclusive o lenço) e um detalhe vermelho no quepe, o que lembrava um pica-pau. Então os combatentes castilhistas eram chamados jocosamente de pica-paus.
Já os maragatos, liberais, receberam esse apelido devido a uma tropa liderada por Gumercindo Saraiva que estava no Uruguai, numa região onde haviam descendentes espanhóis vindo da Maragateria, dessa forma o movimento era taxado como estrangeiro pela mídia governista para tentar enfraquecer e deslegitimar seus ideais.
E aqui a gente tem que abrir um parênteses de que Gumercindo Saraiva e Aparício Saraiva, dois dos principais líderes maragatos, utilizavam lenços brancos, pois eles pertenciam ao Partido Blanco, do Uruguay que defendia os mesmos ideais que os maragatos liberais no Rio Grande do Sul.
Já em 1923 foi a peleia entre os Chimangos, borgistas e legalistas contra os maragatos, assisistas e libertadores.
Os líderes ainda tinham algumas centelhas acesas da Revolução Federalista, por isso mantiveram as cores como parte de símbolo. Os lenços vermelhos dos maragatos continuaram em seus pescoços.
Já os lenços brancos começaram a ser chamados de chimangos, devido a uma sátira feita ao Borges de Medeiros, chamada Antônio Chimango, onde o comparavam com o pássaro chimango. Então seus correligionários adotaram essa nomenclatura.
Eu citei alguns nomes importantes já, então quero deixar aqui outros nomes de líderes de cada Revolução.
Na Revolução Federalista, os Pica-paus eram Júlio de Castilhos, Pinheiro Machado, General Hipólito Ribeiro e Coronel Firmino de Paula. Os Maragatos eram Gaspar Silveira Martins, Gumercindo Saraiva, Aparício Saraiva, Rafael Cabeda, Juca Tigre e Joca Tavares.
Já na Revolução de 1923 temos os Chimangos: Borges de Medeiros, Flores da Cunha, Oswaldo Aranha e Getúlio Vargas. Os Maragatos eram: Assis Brasil, Honório Lemes, Zeca Netto, Felipe Portinho, Estácio Azambuja e Leonel Rocha.
Quanto as peleias, na Revolução Federalista os embates foram muito maiores e mais sangrentos. Acredita que cerca de 10 mil pessoas morreram nos confrontos. As degolas em massa foram muito presentes nessa revolução, de 1893 onde tem algumas batalhas que segundo é apontado mais de 300 soldados foram degolados, como a batalha de Rio Negro e do Boi Preto. A Revolução Federalista é tida como a mais sangrenta da história brasileira.
Na Revolução de 1923, os chimangos eram mais numerosos e bem equipados, tinham até metralhadoras, enquanto alguns destacamentos maragatos lutavam ainda à cavalo com lanças. As baixas giram em torno de 1500 combatentes ao total em sua maioria maragatos.
E no final… o que deu cada uma dessas revoluções?
Na Revolução Federalista, houve um tratado de paz em 23 agosto de 1895. Essa ata de pacificação foi assinada pelo Comandante Galvão de Queiroz e o General maragato Tavares, em Pelotas. Os rebeldes maragatos foram anistiados e prometeu-se a revisão da Constituição do Estado, só que isso não aconteceu. Júlio de Castilhos foi contra o acordo de paz e passou a fazer oposição ao presidente da república Prudente de Moraes. Castilhos, muito fortalecido localmente, continuou no Governo do Estado, até 1898 quando assumiu seu sucessor Antônio Borges de Medeiros.
Já na Revolução de 1923: Houve a assinatura do Pacto de Paz de Pedras Altas em 14 de dezembro de 1923. Justamente no famoso e imponente Castelo de Pedras Altas, de propriedade de Assis Brasil. Entre as 10 cláusulas desta ata de pacificação, em síntese podemos dizer que era garantida a permanência de Borges de Medeiros até o final do seu mandato, mas lhe vedava a reeleição.