O primeiro termo que trago aqui é até uma dúvida que um inscrito aqui do canal deixou nos comentários: Invernada.

Se tu procurar num dicionário comum da lingua portuguesa, vai ter invernada como um inverno rigoroso. Mas pra nós, gaúchos, os frios véio, baguá, de renguiá cusco, a gente chama de invernia.

Invernada tem duas definições. A primeira é de campo. Sendo chamado de invernada um campo grande e cercado, limitado com boas pastagens. Sendo que esses limites podem ser naturais ou feitos pelo homem. Podem haver diversas invernadas, uma pra cada finalidade: para engordar, para cruzamento, pras vacas de cria. De acordo com a necessidade da estância.

A segunda invernada é a de dança. Justamente as invernadas são os grupos artísticos dos CTGs. E são chamadas de invernadas pois no início do movimento tradicionalista se teve o cuidado de resgatar e remeter ao passado rural das estâncias. Mantendo a organização dos CTGs da mesma forma que eram nas grandes estâncias. Onde cada departamento cumpria uma finalidade, por isso as invernadas. Da mesma forma, se respeita a hierarquia: patrão, capataz, sota-capataz, agregado das guaiacas, vaqueanos, peões e prendas.

O segundo termo é um que eu acho muito lindo e só aparece nas coisas gaúchas que é telurismo ou telúrico.

Uma palavra que tem aplicações físicas, seria a ação do magnetismo terrestre. Tem origem no latim tellure, que significa terra. 

Geograficamente falando é a influência da natureza do solo no homem que o habita, na sua índole, no caráter, nos costumes. Telurismo é a ligação que nós gaúchos temos com o solo sagrado, nosso chão, nosso pago, querência, nossas raízes.

Se somos assim é porque as paragens, a terra desse Sul nos fez assim.

Castelhano é um outro termo muito comum que a gente ouve que tem mais de uma aplicação. Geralmente a gente usa pra se referir aos gaúchos das bandas do outro lado da fronteira. Pode ser aos argentinos, uruguaios ou até aos paraguaios. Mas tem que cuidar como usar, pois isso é muito genérico e pode acabar ofendendo algum hermano.

Outra curiosidade é que castelhano é também como é chamada a língua espanhola. Uma vez que antes da Espanha ser oficialmente Espanha, lá era o reino de Castela y León. Então o povo e as coisas naturais de Castela eram castelhanas.

E agora tem um termo que dá muita controvérsia quando utilizado de forma incorreta, mas que pra nós é motivo de orgulho: Crioulo.

Para nós gaúchos, crioulo tem a origem do castelhano ‘criollo’ e é uma designação aos filhos dos espanhóis nascidos no continente americano. Os filhos dos espanhóis que imigravam pra cá eram chamados de chapetones. 

E uma coisa interessante é que nessa antiga América Espanhola, só os chapetones podiam participar da administração colonial, o que descontentava os criollos, mesmo os mais ricos, que não podiam participar da vida política e decidir as coisas.

Então, com o tempo, convencionou-se a chamar tudo o que fosse nascido nessas terras de crioulo.

No Brasil colônia, todos os nascidos de pais escravos sem miscigenação também eram chamados de crioulos. Do século XIX em diante o termo crioulo passou a ser usado a todos os negros de ascendência africana, mesmo os já mestiços.

Na Argentina, criollo é uma referência aos descendentes espanhóis do interior. Os da capital não recebiam a classificação. Tanto que as provas a cavalo de campo e também parte das pilchas recebem sempre a denominação de criollas.

A principal vertente etimológica de crioulo é do francês “créole” que tem o significado de “adaptado as colônias”.

Mas pra gente gaúcha, crioulo é tudo aquilo que é nosso, nascido, criado ou forjado nessa nossa terra. Como cavalo crioulo, galpão crioulo, gado crioulo, crioulo dos olhos d’água. Preste atenção nas músicas que citam o termo crioulo que sempre vem nesse sentido, de terrunho.

Só que se tu ouvir um dia um gaúcho dizendo que vai “fechar um crioulo” ou “apertar um crioulo” ele tá se referindo a o cigarro de palha feito com o fumo em corda.

E pra finalizar, o termo Solingen. Muita gente acha que Solingen é uma marca de faca. Com certeza tu já ouviu dizer: Essa faca é das buena, é uma solinge. Só que está errado, Solingen ou na pronuncia correta Zolinguén é uma cidade da Alemanha muito reconhecida pela sua metalurgia, desde o século X. 

A cidade era conhecida como A cidade afiada ou cidade das lâminas,  devido ao intenso comércio de facas e espadas naquele local. Lá se produz muito aço carbono, com tecnicas refinadas de endurecimento, o que com todos os méritos gerou a fama de ser sinônimo de uma lâmina de qualidade.

Muitas marcas de facas e espadas utilizam aço de Solingen em suas lâminas, por isso tu vai ver o nome Solingen acompanhado de diferentes brasões.

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