Hoje vamos falar sobre João Simões Lopes Neto, nascido em 9 de março de 1865 em Pelotas. Era descendente de uma tradicional família da alta sociedade pelotense ligada as charqueadas. Tanto que nasceu numa rica propriedade de nome Estância da Graça, propriedade de seu avô paterno.

Como todo filho de família rica, com treze anos de idade, foi para o Rio de Janeiro para estudar, mas por problemas de saúde, teve de voltar ao seu pago natal, Pelotas.

Nessa época, Pelotas era uma das cidades mais prósperas e ricas do Sul, devido ao intenso comércio, porto e principalmente produção de charque.

João Simões Lopes Neto, teve muitos empregos e negócios. onde Trabalhou como professor, tabelião, jornalista, funcionário público, comerciante e industrial. Pra tu ter ideia, ele teve fábrica de vidros, destilaria. Nesse tempo os negócios dele deram uma quebrada porque se iniciou a Revolução Federalista e a economia pelotense, como quase toda a gaúcha foi afetada.

Depois do fim da Revolução, ele me funda uma fábrica de cigarros de nome Diabo que também era chamada Marca Diabo. E tá aí um termo que até hoje é utilizado, pra quando a gente se refere a um produto sem grife. Isso aí é marca diabo!

Porém a vida empresarial de Simões Lopes Neto não teve muita relevância, o que realmente mudou o rumo da história foram os seus escritos. Uma pena que só publicados tardiamente.

O primeiro livro publicado foi no ano de 1910, quando Simões Lopes Neto tinha 43 anos. O nome desse livro é Cancioneiro Guasca e é composto por uma coletânea de poesias populares do cancioneiro gaúcho.

Este livro hoje é fundamental para entender a cultura e a sociedade gaúcha que estava ainda em processo de formação pois foi um resgate e registro do folclore gaúcho em seu cerne.

E aqui eu abro um parênteses pra explicar o termo folclore. Folk quer dizer povo e Lore é conhecimento. Folclore é a sabedoria popular. Algo que não era registrado em textos, apenas passado oralmente de geração em geração.

No ano de 1912, Simões Lopes Neto publica se segundo e mais importante livro: Contos gauchescos. Aposto que todo mundo já teve que ler na escola e não entendeu quase nada.

Neste livro estão reunidos 19 contos onde é retratado a vida dos homens do pampa daquelas épocas. É nesse livro que ele apresenta um grande personagem gaúcho: Blau Nunes! 

E começa da seguinte forma: Patrício, apresento-te Blau, o vaqueano. 

E é o Blau que conta os contos em primeira pessoa. Blau tem Oitenta e oito anos, todos os dentes, é letrado, e registra as histórias que escuta. O Blau Nunes e alguns outros personagens dos contos carregam virtudes e pilares da imagem do gaúcho. Honra, bravura, liberdade.

As histórias deste livro são narradas em primeira pessoa, como se o Blau tivesse presenciado a cena ou ouvido diretamente de alguém. Isso traz muita pessoalidade e identificação a obra.

Em 1913, Simões Lopes Neto lança Lendas do Sul. Onde ele conta 3 lendas: M’Boitata, Negrinho do Pastoreio e Salamanca do Jarau. Percebe agora o tamanho da importância do registro dessas lendas para a posteridade?

Um ano mais tarde, em 1914, vem os Causos do Romualdo. Que segue a mesma temática dos Contos Gauchescos com Blau Nunes, mas só que dessa vez o personagem é o Romualdo. São vinte e um contos, histórias curtas e cheias de mentiras, mas todas dentro do mesmo cenário campeiro.

A grande diferença é que em Casos do Romualdo o foco está muito mais na comédia porque os causos do Romualdo são praticamente inacreditáveis e todas as testemunhas que ele cita estão mortas, morando longe ou ele esqueceu o nome.

Por retratar de forma tão genuína as histórias, lendas e o povo gaúcho a obra de João Simões Lopes Neto é considerada como uma das mais importantes para a nossa cultura.

Se tu quiser ler esses livros, fixado nos comentários vou deixar um link para acesso a todas as obras que hoje são de domínio público.

E o Simões Lopes Neto foi casado, mas nunca deixou herdeiros. Infelizmente morreu precocemente em Pelotas, em 14 de junho de 1916 aos 51 anos, vitima de uma úlcera perfurada. 

Teve pouco tempo pra se dedicar a literatura, mas fez de forma única. Ele ouviu o que o povo do Rio Grande tinha a dizer, retratou e hoje está imortalizado.

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