Primeiramente quero agradecer ao Ernesto Fagundes que me deu um suporte pra confirmar os fatos históricos desse vídeo! Mil gracias pela parceria! Nós somos imensamente gratos a tudo que tua família fez e faz pela cultura gaúcha.
Voltamos ao início dos anos 80 e o Antonio Augusto Fagundes, mais conhecido como Nico Fagundes, era advogado na capital Porto Alegre e, inclusive, ele trabalhava num escritório junto com o Edson Dutra, d’Os Serranos.
Certo dia, um dos colegas comentou com o Nico que teria uma audiência lá no Alegrete e perguntou pra ele: Onde fica o Alegrete? O Nico que era natural de lá, não deu coordenadas geográficas, e simplesmente respondeu: Não me perguntes onde fica o Alegrete, segue o rumo do teu próprio coração!
E essa frase ficou na cabeça do Nico, que logo pegou um papel, meteu na sua máquina e escreveu mais uns verso. Diz que em nem 10 minutos, a letra tava pronta. Então o Nico analisou, guardou em sua pasta e levou pra casa.
Tempos depois, o seu irmão Euclides Fagundes Filho, o Bagre Fagundes, foi o visitar em Porto Alegre e recebeu aqueles versos e se impressionou com eles. Tanto que levou de volta pro Alegrete pra musicar eles. Já em terras Alegretenses, o Bagre pegou a sua gaitinha 4 baixos e fez a melodia. E aqui abro um parênteses, porque o Bagre tem essa gaitinha té hoje e vira e mexe ele se apresenta com ela.
Então o Bagre mostrou pro seu pai Euclides Fagundes, que aprovou a obra dos filhos e profetizou: Essa música vai imortalizar vocês. Aí pegaram o telefone, ligaram pro Nico e tocaram o Canto Alegretense. O Nico se agradou, mas não demonstrou o mesmo entusiasmo que seu pai e seu irmão, e disse: É razoável, vocês é que são muito exagerados.
Essa música foi inscrita na 2ª Tertúlia Musical Nativista de Santa Maria, em 1981. Tocada pelo Grupo Inhanduy, que era formado pelo Bagre, pelo Ernesto e o Neto. E foi um sucesso entre o público, só que ela não foi premiada por que essa canção já havia sido apresentada algum tempo antes na Semana Crioula Internacional de Bagé, o que contrariava as regras da Tertúlia. Mesmo assim a música foi gravada e está no disco das finalistas da 2ª Tertúlia Nativista. A musica saiu do pódio mas entrou pra história.
Tempos depois em 1983, o Canto Alegretense foi apresentado pela primeira vez na televisão, no Galpão Crioulo. E nessa apresentação tá o Bagre com sua gaitinha de quatro baixos, o Ernesto e o Neto aos violões e o mais novo, ainda guri, o Paulinho no bumbo leguero.
E de lá pra cá o Canto Alegretense virou uma das marca mais tocadas nos encontros de gaúchos em todo o universo. Pra tu ter ideia, foi gravada por mais de 100 diferentes artistas e aposto que tu já ouviu pelo menos umas 300 vezes ele, e agora eu te pergunto:
Tu sabe o que significa a letra? Consegue identificar e entender todas as palavras da música?
Então agora vamos dar aquela esmiuçada na letra:
Não me perguntes onde fica o Alegrete
Segue o rumo do teu próprio coração
Cruzarás pela estrada algum ginete
E ouvirás o toque de gaita e de violão
Aqui é pra situar que Alegrete é uma terra campeira, a gente sabe que ao andar pelo interior gaúcho sempre encontramos gauchos a cavalo pelas estradas. E toque de gaita e violão é pra lembrar que esses são os dois instrumentos mais característicos da música campeira.
Pra quem chega de Rosário ao fim da tarde
Ou quem vem de Uruguaiana de manhã
Tem o sol como uma brasa que ainda arde
Mergulhada no Rio Ibirapuitã
Aqui o Nico dá uma aula de geografia. Como bem sabemos, o Sol nasce a leste e se põe a oeste. Logo, Rosário do Sul fica ao leste do Alegrete, então o Sol está avermelhado pra quem faz o caminho Rosario/Alegrete a tarde. Enquanto Uruguaiana está a Oeste e pega o Sol avermelhado pela manhã. E o Rio Ibirapuitã é o rio que corta a cidade de Alegrete. E ibirapuitã é uma palavra do tupi-guarani que siginifica Arvore Vermelha ou Madeira Vermelha.
Ouve o canto gauchesco e brasileiro
Desta terra que eu amei desde guri
Flor de tuna, camoatim de mel campeiro
Pedra moura das quebradas do Inhanduy
E é nessa hora que o povo enche o peito e canta os dois primeiros versos cento por cento e depois se atrapalha. O canto é gauchesco e brasileiro também, isso é algo que o Nico sempre defendeu, a união da cultura gaúcha como parte intrínseca da brasileira.
A flor de tuna: A tuna é um tipo de cacto que é bem comum na região da campanha. E esse tipo de cacto dá uma flor bem bonita. Camoatim de mel campeiro: Camoatim é um inseto, uma tipo de vespa, que produz mel silvestre ou melhor mel campeiro.
Pedra moura, é uma referencia a essas pedras pretas de rio. Moura é uma referencia a pelagem dos cavalos. Quebradas do Inhanduí, o Inhanduí é um rio da região que também dá nome ao subdistrito do Alegrete que é local de origem da família Fagundes.
E na hora derradeira que eu mereça
Ver o sol alegretense entardecer
Como os potros, vou virar minha cabeça
Para os pagos no momento de morrer
Potros são os cavalos novos que estão em fase de doma. E o pago é o nosso chão, a nossa terra natal.
E nos olhos vou levar o encantamento
Desta terra que eu amei com devoção
Cada verso que eu componho é o pagamento
De uma dívida de amor e gratidão
Essa última estrofe é loca de linda. Reflete muito bem aquilo que a maioria dos gaúchos apaixonados pelo pago sentem. Encantamento no olhar, no relembrar as coisas boas de casa e ter sempre aquela resto de amor e gratidão pela vida.
Essa música ela se tornou praticamente um hino informal da gauchada. Há identificação imediata com ela, pela melodia e depois pela letra. Ela é uma homenagem ao Alegrete, mas todo o gaúcho se sente em casa ouvindo ela, pois tem verdade e sentimento em seus versos.
Me sinto honrado em obter este conhecimento/esclarecimento.
Obrigado por permitir, que saibamos mais, sobre a canção/cultura gaúcha.
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Que linda a história dessa música que é um hino tão admirado pelos gaúchos. Parabéns por compartilhar um conhecimento tão bonito. Orgulho do nosso povo e da nossa história!
SOU ADIMIRADOR DESTA LETRA E MUSICA E PRA UM MISSIONEIRO, VISINHO DO ALEGRETE
Eu vim de pelotas passar o feriado em alegrete terra q eu tinha curiosidade de conhecer, deu acaso q o jornal do almoço foi feito aqui alegrete, eu fui prestigiar e me integrar da música q eu sempre gostei, estou muito feliz de conhecer essa história linda, e a letra do canto q serve pra toda gauchada do Rio grande do sul. Gratidão pela história e pela cidade.
Boa noite, sou carioca e morei no RS por algum tempo, pois é a terra do meu marido. Lá em Gravataí fui vizinha do gaiteiro Moreno Martins pai do Dione, Ronei e Rodrigo todos Martins e gaiteiro e por isso já tinha conhecimento desta estória muito linda e acho que deveria ser o hino dessa terra que amei desde que a conheci, obrigada
Essa música é um verdadeiro hino. Nico Fagundes foi um grande divulgador da Cultura Gaucha e Brasileira, que merece todo o reconhecimento pela beleza desse hino.