Sem dúvida alguma o mês de setembro é o mais especial e importante pra gauchada pois é nele que está contido a semana farroupilha. Que é uma semana que homenageia o espírito de luta e liberdade dos antepassados dessa terra. Em todos os lugares que tem gaúchos acolherados tem festividades em nome da tradição. 

Aí eu falo de todas as cidades do Rio Grande do Sul, muitas de SC, PR, MS, MT e demais cantos do universo. São acampamentos, desfiles, concursos culturais, shows nativistas, cavalgadas e mais um eito de coisa buena pra todas as famílias gaúchas.

Mas me diga aí, che… tu sabe de onde que surgiu essa ideia? Quem que foi o primeiro que se pilchou a capricho, encilhou o cavalo e saiu cruzando a cidade com a alma cheia de campo?

Será que foi logo depois das revoluções, no tempo de Bento, Canabarro e Garibaldi? Será que foi no tempo das peleias entre chimangos e maragatos? Ou é mais recente?

Che e enquanto tu enche a cuia, dá uma olhada se tu já tá inscrito no canal do Linha Campeira no Youtube, que é Youtube.com/LinhaCampeira e já que tá por aqui aproveita pra ativar o cincerro da égua madrinha das notificações e dá aquele bueno véio de fundamento no vídeo. Isso ajuda a gente uma barbaridade.

O costume de celebrar a Semana Farroupilha é devidamente recente e estái intimamente ligado a uma das mais importante figuras da cultura gaúcha: João Carlos Davila Paixão Cortes.

O ano é 1947, num chuvoso final de agosto, a sociedade brasileira passava por um momento de forte americanização devido as glórias oriundas da segunda guerra mundial. O culto aos hábitos locais, os costumes e as tradições estavam sendo esquecidas.

Há um relato (que não consegui confirmar a fonte) que conta que o jovem Paixão Cortes estava em uma cafeteria e havia uma bandeira do Rio Grande sendo utilizada como cortina em uma das janelas, o que causou nele uma profunda decepção e, ao mesmo tempo acorajou a fazer algo pelas suas raízes.

Então juntamente com outros sete amigos, que na época estudavam no Colégio Júlio de Castilhos, em Porto Alegre, fundaram um Departamento de Tradições Gaúchas, junto ao Grêmio Estudantil. 

Esse departamento tinha por objetivo estimular o desenvolvimento cultural na sociedade, mas principalmente entre os jovens, pois era um movimento estudantil com alunos de diversas camadas sociais e segmentos étnicos, que peleava em favor das tradições.

Tinham como objetivos achar uma trilha diante da perda da fisionomia regional; combater a descaracterização; reagauchando o Rio Grande. Procuravam a identidade, a essência, da terra e da gente gaúcha.

A maioria dos membros desse departamento eram gaúchos vindos do interior e que estudavam na capital, como por exemplo o Paixão que é natural de Santana do Livramento. No interior se tinha a vivência de campo, seu apego as raízes, a tradição… e já na capital, na leal e valerosa Porto Alegre sentia-se falta desse contato. 

Foi então que o DTG resolveu promover a 1ª Ronda Gaúcha que se iniciaria no dia 07 de setembro e iria até 20 de setembro de 1947. Posteriormente essa Ronda Gaúcha começou a ser chamada de Ronda Crioula.

E já na noite do 7 de setembro é que aconteceu um dos fatos mais importantes, que foi a geração da chama crioula e isso é um baita causo.

Como a maioria dos grandes eventos tem o fogo como símbolo de alma e espírito vivo, o Paixão Cortes solicitou ao comando da Liga de Defesa Nacional, na pessoa do Major Darcy Vignolli a possibilidade de retirar uma centelha do Fogo Simbólico da Pátria para acender a Chama Crioula para as festividades da Ronda Gaúcha. 

Desse modo a mesma chama aquece o coração dos gaúchos e dos brasileiros, sendo um símbolo de união indissolúvel do Rio Grande do Sul com a Pátria Mãe. O Major não só concedeu a autorização como fez o convite para que Paixão Cortes montasse uma guarda de gaúchos para escoltar os restos mortais do General David Canabarro que estavam vindo de Santana do Livramento para Porto Alegre.

Então no dia 05 de setembro de 1947, oito jovens pilchados e bem montados a cavalo, carregando as bandeiras do Brasil, do Rio Grande e do Colégio Julio de Castilhos escolataram os restos mortais do herói farroupilha. Aí nasceu o Grupo dos Oito, conhecido como Piquete da Tradição e que mais tarde viria a ser o primeiro CTG, o 35.

O Grupo dos Oito era formado por: Antonio João de Sá Siqueira, Fernando Machado Vieira, João Machado Vieira, Cilço Campos, Ciro Dias da Costa, Orlando Jorge Degrazzia, Cyro Dutra Ferreira e João Carlos Paixão Côrtes.

E 2 dias depois próximo da meia noite do dia 07 de setembro de 1947, Paixão Cortes, Cyro Dutra Ferreira e Fernando Machado Vieira, devidamente pilchados e montados em seus cavalos aguardavam junto a Pira da Semana da Pátria.

Chegando o momento da extinção da chama, Paixão Cortes subiu ao topo da Pira com um archote improvisado, feito de estopa com querosene atada na ponta de um cabo de vassoura e assim acendeu a primeira Chama Crioula.

Dali os três cavaleiros partiram a galope até o colégio onde instalaram essa centelha do fogo dentro de um candeeiro bem campeiro e utilizou durante todas as festividades da Ronda Gaúcha, sendo apagada apenas no dia 20 de setembro.

E temos que dar destaque a programação desta Ronda, que era loca de especial, começou com o acendimento da Chama Crioula, depois teve fandango, concurso de trajes, palestras, atividades equestres, concursos literários. No meio do fandango tinha até um fogo de chão com um churrasco no costado e umas quantas cambonas com água pro mate, além do salão estar decorado com vários objetos da lida de campo.

E nesse fandango especial do dia 20 de setembro de 1947, tinha uns quantos convidados especiais como jornalistas, escritores, historiadores e poetas. Em destaque o jornalista e escritor Manoelito de Ornellas e o desenhista campeiro e declamador, Amândio Bicca. 

Diz que lá pelas tantas o Manoelito deu um baguá de um discurso inflamado às causas regionalistas, manifestando sua crença naqueles jovens e nos objetivos a que se propunham alcançar e tudo na beira de um fogo-de-chão, mateando e tomando café-de-chaleira. 

Um fato importante é que foi nesse fandango que Barbosa Lessa conheceu o Paixão Cortes e se juntou ao movimento. Então podemos até especular que aí se iniciava o tradicionalismo como força viva popular.

Esta Ronda Crioula foi, na verdade, a precursora da Semana Farroupilha, a qual foi oficializada somente 17 anos mais tarde, através da Lei Estadual 4.850, de 11 de dezembro de 1964.

Então foi assim que surgiu esse grande evento da Semana Farroupilha que é muito mais que tempo de reunir os amigos na praça, cantar o Hino e comemorar o feriado. É tempo de reflexão pra entendermos de onde viemos e o que fizemos para manter viva a nossa tradição.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *