É muito comum a gente ver as faixas de cintura incorporadas a pilcha gaúcha, por baixo das guaiacas e rastras. Geralmente a gente encontra elas em vermelho, azul escuro, preto e algumas com uns desenhos pampa e outros adornos.

A origem das faixas para cintura é muito antiga e tem influência de diversas culturas. É bem comum a gente ver isso em gravuras antigas, principalmente militares. A principal serventia seria dar uma firmeza ao lombo da peonada.

Inclusive há uma teoria de que o gentílico ‘barriga-verde’ para os catarinenses vem de um destacamento militar muito forte e presente em terras catarinenses que utilizavam uma faixa verde à cintura.

Talvez a citação mais famosa em música sobre faixa de cintura é em Esquilador, do Telmo de Lima Freitas: “Avental de estopa, faixa na cintura e um gole de pura pra espantar o calor.”

Nesse caso do Esquilador, a faixa aparece justamente nessa função de dar suporte e firmeza pra lombar do esquilador, pois a posição que o peão usa pras esquila a martelo prejudicava muito as costas.

Então se percebe que a faixa sempre foi uma peça funcional. Mas como isso chegou à cintura dos gaúchos e foi tão facilmente incorporada a nossa pilcha?

Dei uma chuliada no livro: Indumentária Gaúcha: Dos Bailes Antigos aos Tablados, do autor Giovani Primieri que traz algumas informações muito interessantes a respeito disso. No livro apresenta-se a faixa de lã, castelhana e a faixa brasileira.

A faixa de lã, chamada de castelhana, hoje é mais comum e muito mais fácil de se achar por aí, então primeiro falarei dela.

Cruzando com a pesquisa da obra do Paixão Cortes, onde ele diz que essa faixa de cintura antigamente não era fabricada no Brasil e sim no Uruguai e Argentina, mas que principalmente a gauchada da fronteira utilizava. Tendo nula utilização funcional por parte dos gaúchos de outras regiões do Rio Grande do Sul.

Quando as características físicas, geralmente eram feitas de lã simples cardada, nas cores vermelho, azul marinho e preto. Geralmente o tamanho era de cerca de 18cm de largura por 2,8m de comprimento, que dava pra dar umas 3 voltas na cintura do peão.

Além de utilizar para firmar as costas e melhorar a postura, também protege os rins do frio, também se usa pra guardar algum objeto pequeno, seja um canivete, uma faca.

Eu gosto muito de utilizar a minha faixa principalmente quando vou lidar num assado mais graudo, que aí faca e a chaira ficam mais firmes junto a cintura. Mas é muito mais uma questão de gosto pessoal.

Em eventos mais sociais, se usa a faixa com a guaiaca por cima. E por casa ou na informalidade, pode ser usada apenas a faixa, sem a guaiaca. Se tu quiser saber como se enrola a faixa na cintura, eu publiquei esse vídeo no instagram explicando.

Nos apontamentos do livro, acredita-se que esse uso por quase toda a gauchada dos grupos de dança se dê muito mais por motivos estéticos do que por representatividade fronteiriça, uma vez que a cor da faixa é utilizada para dar um contraste com as cores das pilchas.

Outra coisa que vale a pena lembrar é a respeito das faixas pampa, com aqueles desenhos geométricos que remetem aos povos nativos sul-americanos mais do norte da Argentina, Chile, etc. Esse tipo de faixa não faz parte dos costumes dos gaúchos sul-riograndenses antigos, começam a aparecer e se popularizar aqui por essas bandas somente a partir dos anos 60.

Agora vamos falar da faixa brasileira, que esteticamente tem o comprimento e larguras semelhantes. 12 a 14 cm de largura por até 3m de comprimento. Quem registrou ela foi o Paixão Cortes nos anos 60. Tinha basicamente as mesmas funcionalidades da faixa castelhana, porém não era recomendada ao frio, já que ela era feita de linho ou algodão e geralmente em cores claras (branco ou bege natural).

Foi usada de forma funcional apenas sobre o chiripá saiote por cima ou por baixo da guaiaca.

Dentro da mesma temática e a título de curiosidade, nas diretrizes de pilcha do MTG sobre as faixas aparece o seguinte:
– Uso: opcional. Se usada, é completamente enrolada na cintura, sempre sob a guaiaca.
– Cor: lisa, na cor vermelha, preta ou azul-marinho se for de lã. Bege cru se for de algodão.
– Largura: de 10 a 12 cm. Vedações: são vedadas as faixas estampadas, bordados e as brancas.

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