Tem uma marca imortalizada na voz de Noel Guarany que se chama Lavadeira do Uruguai e tem os versos do João Sampaio e começa bem assim?

“Com a trouxa na cabeça rumo ao povoado se vai
Dona primitiva Ismalia flor pampa que se retrai
Crioula da cor de terra lavadeira do Uruguai

Ajoelha junto ao rio a cantar com a correnteza
Lavando suores profanos dos ricos da redondeza
Vê o lombo do dourado que falta na sua mesa”

Essa música fala de uma realidade dos tempos de antigamente, das lavadeiras de campanha. Mulheres dos peões que faziam esse serviço pra complementar a renda do rancho. Geralmente na volta dos ranchos se tinha sempre uma boa água como um riacho ou uma sanga. E era por lá que se lavavam as roupas.

As lavadeiras recebiam as roupas sujas em trouxas em seu rancho, já com um pacote com o sabão junto. Algumas vezes o pagamento era adiantado, mas isso não era um padrão.

Se já é ruim a gente lavar as roupas no tanque, de pé, com a água limpa, imagine como era o serviço das lavadeiras, pois elas tinham que carregar essas trouxas até a beira da sanga. Quase sempre ficava de joelhos e usava uma tábua para esfregar o sabão e as roupas.

Então ela tinha que lavar, esfregar, torcer, bater… pra tirar a sujeira, graxa, barro, sangue das bombachas que eram na maioria feitas de um brim duro. E isso machucava os dedos da lavadeira. Também as vezes se tinha pra lavar os lençóis das patroas que eram grandes e brancos, aí exigia uma água abundante e limpa. “Lavando suores profanos dos ricos da redondeza”

Algumas lavadeira que tinham isso como ofício, erguiam uma ramada no local para poder trabalhar na sombra, mas como era no campo, acaba as vezes do gado destruir. Pois o serviço era feito o ano todo e por horas e horas. No verão debaixo de um forte Sol e no inverno era o minuano, umidade e o frio desse Sul.

Então depois de todo o trabalho de lavação era preciso levar de volta pra volta das casas pra secar toda essa roupa, pois não dava pra deixar à noite na beira do arroio porque os bichos podiam bater nas roupas. Já pensou de um graxaim mijar nos lençóis da patroa? Ou uma vaca mastigar as bombacha?

Por isso a lavadeira tinha que recolher a roupa a noite e estender no outro dia com nos primeiros raios de Sol para quarar as roupas. Esses locais onde as roupas eram secas eram chamados de quarador.

Então depois das roupas secas, elas tem que ser passadas pra poder entregar. Vale lembrar que nessa época as roupas eram feitas de um algodão mais grosso, elas amassavam valendo. Bem diferente das roupas que temos hoje que quase não amarrota.

E o ferro de passar roupas era aquele ferro de ferro. Pesado, que ia as brasas dentro. Aí tinha que passar todas essas roupas e lençóis deixar tudo bem dobradito, organizado.

Depois de tudo pronto, o peão pegava esses sacos e levava de volta pra estância pra entregar o serviço.

É importante a gente pensar nos casos de que o inverno muito úmido ou em temporadas de chuva demorava mais a entrega, pois as roupas não secavam. E também em muitas vezes a lavadeira era mãe e tinha que cuidar dos filhos enquanto fazia todo esse serviço.

Realmente, a gente tem que tirar o chapéu pra essas mulheres de campanha. Que foram o alicerce pra manter os ranchos e as famílias.

A pesquisa deste episódio é baseada no texto do livro Mala de Garupa – Costumes Campeiros, de Raul Annes Gonçalves.

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