“Passado a gaucharia da Semana Farroupilha, julgo estar na hora de que se faça uma avaliação séria sobre este evento, pois tem gente, instituições, órgãos, TVs, Jornais e outros segmentos que ‘viram Gaúcho’ e cometem loucas heresias (profanas e mesmo religiosas), em nome das nossas ‘mais puras e sagradas tradições’. ‘Descobrem’ verdadeiros e inéditos ‘acontecimentos pampeanos’… Até uma ‘Anita Garibaldi’, ao vivo (de carne e osso), vestindo ‘lucifer’ chiripá, com ceroula franjada por cima da bota de campeiro, sapateando chula; de faixa chinchando à cintura; de adaga frontalmente atravessada na guaiaca e de ‘vincha’ à cabeça, tudo, tudo a moda machista de antanho, recepcionando ela (com cachê), num museu público, turistas sedentos da nossa história farrapas. Triste visão feminista e fantasiosas figuras de nossas ‘prendas’…

O hodierno movimento de culto às nossas heranças pastoris, completou mais de meio século. Acredito que mereça o tema, pela crescente e ampla responsabilidade educacional e turística, de uma criteriosa e renovada análise conceitual para que não se confunda o autóctone, a nossa nativa e fiel identidade cultural histórica – folk popular, com atitudes insensatas de certos deslumbrados rio-grandenses que, de um momento para outro, na data de 20 de setembro ‘ficam gaudérios’ (será que sabem o significado desta palavra!?). É a glória! Depois, o resto do ano, passam contando “causos” e ‘cuspindo’, que nem pato, por ‘invernadas’ tradicionalistas…

Fatos, fotos, vestuário, músicas, danças, imagens e o ‘Desfile Oficial Farroupilha’, estão aí a testemunhar dezenas de irresponsabilidade que são passadas como autenticamente gauchescas, exigidas através de bufos regulamentos. Com certeza, conscientes gerações futuras irão cobrar essas modistas inverdades… Enquanto isso fico no aconchego dos meus pelegos, cevando mais um amargo e pensando, pensando, mas pensando mesmo em meus avoengos.”

“GAUCHADAS E FARROUPILHADAS” – (Por J. C. Paixão Cortes – Em “Jornal do Nativismo”, de Outubro de 2004).
Texto compartilhado pelo tradicionalista por Diego Müller, em sua página do Facebook.

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