Resgatamos um texto (mas bota cosa mais linda) e pedimos permisso pra compartilhar com todos. O título original é “Un mate y un Amor”. Nós do Linha Campeira, traduzimos o texto e gravamos ele.

Nesta pátria, não se toma mate porque se tem sede. O chimarrão é exatamente o contrário da televisão: te faz conversar, se estás acompanhado e te faz pensar, quando está sozinho… Quando chega alguém na tua casa, a primeira frase é: “E aí, tchê, como vai?” E a segunda: “Vamos tomar um mate?” E isso em todas as casas.

Seja rico ou pobre… numa prosa com amigos ou numa conversa formal… Acontece entre os velhos, nos asilos mas também entre os jovens, enquanto estudam. O mate é compartilhado por pais e filhos, num mesmo nivelamento… por simpatizantes de qualquer partido, religião ou time. Entre bons e os maus. No inverno ou no verão.

Aqui nessa pátria, quando se tem um filho, começamos a dar um chimarrão assim que eles pedem… com água meio morna… e eles se sentem grandes. É com orgulho quando nosso filho começa a matear com a gente. Aqui é o único lugar no mundo onde a decisão de se deixar de ser criança ocorre num dia em especial. E não é quando se começa a usar calças compridas, quando se vai pra universidade ou quando se passa a viver longe dos pais. Aqui, começamos a ser grandes no dia em que sentimos a necessidade de tomar, pela primeira vez uns mates, solito. Não é casualidade. No dia que um adolescente põe a chaleira no fogo e toma seu primeiro mate, sem que tenha mais ninguém em casa… nesse momento ele descobre que tem alma.

As músicas aqui, tem as letras cheias de erva-mate. Tem sempre erva, em qualquer casa, sempre. Com inflação, com fome, com militares, com democracia, com saúde ou com doença. E se acaso um dia acabou a tua erva, um vizinho sempre vai te ceder uma cevadura. A erva não se nega a ninguém.

A simplicidade do mate é uma demonstração de valores:
É a solidariedade de matear até que a erva fique lavada porque a prosa é boa e a parceria merece.
É o respeito pelos momentos de se falar e de se escutar, pois enquanto eu mateio, o outro fala e quando lhe alcanço a cuia, é o momento dele me escutar.
É a sinceridade de dizer: “Que tal dar uma encilhada no mate?” Há companheirismo nesse momento e a sensibilidade da água quente e o carinho de perguntar, de pronto “Tá meio quente, não?”.
É a modéstia de quem ceva o melhor mate e a generosidade de oferecer até o final.
É a hospitalidade do convite e a justiça de cada um tomar o mate na sua vez.
É a obrigação de dizer “muito obrigado” pelo menos uma vez ao dia.
É a atitude ética, franca e leal de se reunir sem outra pretensão que não seja compartilhar.

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