Prenda minha é uma das principais obras musicais do nosso folclore. Tanto que teve uma pesquisa na volta dos anos 2000 e foi considerada a obra mais lembrada por músicos, jornalistas e pesquisadores no Rio Grande do Sul.

Quem nunca cantarolou Prenda Minha ao embalar uma criança pra dormir. Ou quem nunca foi embalado com essa melodia? É algo que está na alma e no coração da nossa gente.

É tido como o primeiro registro da famosa estrofe “Vou-me embora, vou-me embora, prenda minha…” o ano de 1880, feito por Carlos Von Koseritz, professor, folclorista, escritor e jornalista alemão erradicado no Rio Grande do Sul no jornal Gazeta de Pôrto Alegre.

No livro “Assim Cantam os Gaúchos” lançado pelo Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore em 1984, essa melodia teria sido recolhida por Teodomiro Tostes, poeta gaúcho natural de Taquari, que nos anos 20 ouviu de um velho gaiteiro.

No ano de 1928, a canção foi registrada no livro Ensaio sobre a Música Brasileira do escritor e folclorista paulista Mário de Andrade. E a partir dessa menção é que a música Prenda MInha se tornou muito popular entre a colônia gaúcha no Rio de Janeiro. Esse fato até o Barbosa Lessa reconhece em seus estudos.

Outros estudos apontam que a origem dessa toada estaria no refrão de uma música, uma tirana, do folclore açoriano:

“Tirana, atira, tirana
Vem a mim, tira-me a vida:
A prenda que eu mais amava
Já de mim foi suspendida”.

Também há uma variante antiga de Prenda Minha que traz versos de outra canção folclórica de Portugal, O Ladrão do Negro Melro:

“O ladrão do negro melro
Toda noite assobiou
Pela fresca madrugada
Bateu as asas, voou.”

Como já sabemos, Prenda Minha é uma música do folclore açoriano e português que integra o folclore gaúcho, dessa forma não tem como identificar um autor definido. E há também dificuldades para saber qual foi a primeira gravação.

Tudo leva a crer que foi em 1935. Pra ser mais extado em Gravado em 23 de julho de 1935 e lançado em setembro de 1935, pela dupla carioca Almirante e Paulo Tapajós, pela gravadora Victor, com arranjos feitos pelo maestro porto-alegrense Radamés Gnattali.

Em 1940, Ernani Braga publicou Cancioneiro Gaúcho, que continha a partitura para piano e coro de Prenda Minha, que seria incorporada ao repertório de apresentações de orquestras, bandas e corais.

Na mesma década, em 1945, Pedro Raymundo, referência precursora do regionalismo gaúcho como o conhecemos hoje, gravou a sua versão. E tudo indica que depois dessa gravação é que prenda minha ganhou as rádios e começou a ecoar em todos os cantos do Rio Grande.

Essa música ela se tornou tão importante pro folclore e pra cultura gaúcha que o Barbosa Lessa e o Paixão Cortes chegaram a indicar que ela foi uma das responsáveis por consolidar o termo “prenda” como sinônimo de mulher gaúcha, desbancando china e chinoca.

Prenda minha é uma toada que tem apenas 3 versos. A letra é muito simples e relata a despedida de um peão de sua amada. Ele precisa voltar pra estrada pra lida, pra juntar o sustento, mas a saudade sempre ecoa e está presente na sua jornada.

Vou embora, vou-me embora,
Prenda minha,
Tenho muito que fazer.
Tenho de ir parar rodeio,
Prenda minha,
No campo do bem-querer.

Noite escura, noite escura,
Prenda minha,
Toda noite me atentou.
Quando foi de madrugada,
Prenda minha
Foi-se embora e me deixou.

Troncos secos deram frutos,
Prenda minha,
Coração reverdeceu.
Riu-se a própria natureza,
Prenda minha,
No dia que o amor nasceu.

E esses versos simples foram gravadas infindas vezes por artistas regionais gaúchos como Os Araganos, Conjunto Farroupilha, Grupo Caverá, Kleiton e Kledir, Joca Martins, Delcio Tavares, Borghetinho, Wilson Paim, Os Farrapos e por outros tantos como Inezita Barroso, Agnaldo Rayol e Caetano Veloso.

Mas se eu te contar que teve um americano que resolveu levar a nossa prenda pro norte da América? Olha só esse caso. No início dos anos 60, um dos principais trompetistas de jazz dos EUA Miles Davis gravou uma música chamada: Song Nº 2 e registrou como sendo dele em parceria com Gil Evans.

Mas como bem sabemos, se é do povo é universal! Essa música é parte do folclore, é minha, tua e de todo mundo.

Abaixo preparei uma playlist onde tem várias versões de “Prenda Minha” inclusive esse tal de Som Nº2:

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