Adeus, Mariana! é um chote, de composição do Pedro Raymundo. Foi lançada pelo próprio Pedro Raymundo em Setembro de 1943 em um compacto duplo de 78 rotações por minutos pela gravadora Columbia. Nesse disco, a música do Lado A era um choro intitulado Tico-Tico no Terreiro e do lado B era Adeus, Mariana!

E como bem sabemos, essa música ficou conhecida no Brasil inteiro e até hoje continua sendo tocada nas rádios e bailes da gauchada. È sem dúvidas a composição mais popular do Pedro Raymundo, foi gravada por mais de 60 artistas diferentes como: Tonico e Tinoco, Sergio Reis, Gaúcho da Fronteira e tantos outros.

A música fez tanto sucesso entre os anos 40/50/60 que o Pedro Raymundo relançou mais 5 vezes ela. 3x em compactos. E duas em Long Plays… Em 1956 em O canto e o Acordeom de Pedro Raymundo. Depois em 1968 num LP que leva o nome de Adeus Mariana.

Mas será que essa tal Mariana realmente existiu e descia a açoiteira no marido mesmo?

Dando uma chuleada no assunto me deparei com um texto publicado no site EstanciaVirutal.com.br e assinado pelo jornalista Marcio Cavalli.

No texto o Marcio Cavalli conta que tava proseando com um brigadiano da reserva chamado Plinio Nascimento, natural de São Pedro do Sul, mas que se aquerenciou em Canela e lhe contou vários detalhes a respeito da vida de sua mãe: Mariana Pereira do Amor.

Isso mesmo, a tal da Mariana da música realmente existiu! Mariana nasceu em 1897 na região das Missões, não era uma mulher agressiva, mas era valente e tinha muito brio. Além do mais sabia tocar violão e gaita.

Aqui podemos ver uma foto do Plinio com um retrato da dona Mariana e sua gaita Hohner de oito baixos.

Mas o que será que aconteceu pra Mariana ser a personagem principal dessa música?

Segundo seu filho, Mariana não era uma mulher de confusão, mas muito corajosa. Moravam no interior do município de Dilermando de Aguiar e quando seu marido se ausentava de casa devido ao trabalho era fazia a segurança do rancho e sempre portava uma adaga e um revolver, pra causo alguma precisão.

Certa feita, em 1925, numa das ausências do marido, um sobrinho dele foi hospedado por Mariana (também se chamava Job). O moço, sem levar em conta o fato de estar na casa da mulher do tio, passou a cortejá-la desrespeitosamente. Aí Mariana não tolerou tamanho desaforo e colocou as roupas do rapaz numa malinha e a jogou na rua, mandando o parente do marido embora.

E aí vocês já sabem… um fato desses não passa desapercebido das fofoca do vizindário e foi de orelha a orelha até chegar em Imaruí terra natal de Pedro Raymundo e também do marido de Mariana.

Só que o fato tem pouco haver com a letra da música, mas como bem sabemos quem conta sempre vai dando uma floreada na história e dando mais caldo. Então podemos afirmar que Adeus, Mariana é baseada em fatos reais.

Nasci cá na cidade e me casei na serra
Com minha Mariana, moça lá de fora
Um dia eu estranhei o carinho dela
Disse: Adeus, Mariana, que eu já vou-me embora!

É gaúcha de verdade de quatro costado
Usa chapéu grande, bombacha e espora
E eu que estava vendo um caso complicado
Disse: Adeus, Mariana, que eu já vou-me embora!

Nem bem rompeu o dia, me tirou da cama
Encilhou o tordilho, e saiu campo fora
E eu fiquei danado e saí dizendo:
Adeus, Mariana, que eu já vou-me embora!

Ela não disse nada, mas ficou cismando
Que era dessa vez que eu daria o fora
Segurou a soiteira e veio contra mim
Eu disse: Larga, Mariana, que eu não vou embora!

E ela de zangada, foi quebrando tudo
Pegou a minha roupa jogou porta fora
Agarrei, fiz uma trouxa e saí dizendo:
Adeus, Mariana, que eu já vou-me embora!

Essa letra que declamei agora é transcrita da versão original de 1943 e durante a música, o Pedro Raymundo vai comentando e dando uma provocada no público, pra deixar a história mais completa.

Aqui vale esclarecer o termo “de quatro costado”, que significa que é gaúcha de linhagem inteira, os quatro costados é uma referência aos avós na arvore genealógica. Então quando alguém falar por exemplo que é gaúcho dos quatro costado, já sabe o que significa.

Mas se compararmos a música com a Mariana original, temos algumas significativas diferenças.

A primeira, podemos citar a famosa capa do disco de 1968, onde tem uma mulher loira com vestes modernas e suitera na mão pra dar no Pedro Raymundo. Como a Mariana é, de fato, missioneira dos quatro costado, ela tinha os olhos claros com sangue guarani e no seu dia-a-dia costumava a utilizar trajes mais campesinos. E nunca usou chapéu grande, bombacha e esporas, segundo contou seu filho Plinio, além de nunca ter subido a serra pra se casar.

Mariana Pereira do Amor faleceu em Uruguaiana no ano de 1954, com cerca de 57 anos, mas a sua memória e parte da sua história está eternizada no folclore dessa terra gaúcha.

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