O nome correto da música é Casamento da Doralícia, que é um bugio de composição de Honeyde e Adelar Bertussi. Foi gravado pela primeira vez em 1956 no LP Coração Gaúcho 2 e é a 5ª música do lado A daquele disco. Essa música é considerada o primeiro bugio gravado em disco.
Na contracapa desse disco tem uma citação a respeito dessa música:
O casamento da Doralícia (bugio)- Conto gauchesco de Honeyde Bertussi e música também colhida do folclore. Bugio, é um samba ritmado caracterizado pelo jogo de fole do gaiteiro. O passo da dança é de acordo com o movimento do fole.
Esse conto citado teve a inspiração numa história que aconteceu lá em São Jorge da Mulada, terra natal d’Os Bertussi. Essa história foi contada pelos familiares do Honeyde e do Adelar, sobre um casamento de pessoas famosas lá da região e nesse casamento aconteceu uma baita passada.
Isso está registrado no início da música, onde é narrado esse causo. O Honeyde narra a história e o Adelar faz alguns comentários. Ouça aí com as legendas.
– Mas então, tchê… se lembra quando casou a Doralicia?
– Não mas é certo que faz uma barbaridade de tempo.
– A Doralicia era aquela moça gorda que morava no Rincão da Mulada. 88 quilos.
– Bão peso!
– E no dia do casamento foi fazer uma gauchada e fez o maior fiasco do mundo. Casou com o Zé Taquara, um corredorzinho de carreira.
– 44 quilos.
– Neto do véio Aparício.
– Isto.
– E quis fazer uma arrojada pra tapar o fiasco da Doralice e levou a rodada mais feia desse mundo. Quando o vivente levantou tinha passado as duas esporas pra um pé só!
– Ala pucha só!
– Agora o fandango deu o maior do mundo! O gaiteiro de vez em quando dum bugio passava pra um contrapasso e não faltava um cantador pra lhe ajudar!
Aí em seguida entra as gaitas e os demais instrumentos tocando o bugio. E os verso que vem no final é recolhido do folclore, como está apontado na contracapa e diz assim:
Vou me embora desta terra / Vou morar noutra morada
Quem quiser que eu vá e volte / Mande barrer as estradas
Tirando as pedras miúda / E sereno da madrugada
Então o Casamento da Doralícia é o causo e a música é apenas pra ilustrar o fandango que acontecia, como o Honeyde fala no fim do causo. E os Bertussi lançaram essa música em outro disco do nome Coração Gaúcho e depois saiu uma versão masterizada no Memorial Irmãos Bertussi em 2017.
Também é importante mencionar que o Albino Manique fez uma versão instrumental extensa desse bugio e lançou no seu disco Dançando com Albino Manique, em 1982. E lá está o nome: Casamento da Doralice.
Mas aposto que tu deve tá se perguntando agora: “Tá, tchê, mas cadê o “Eu vou dançar fandango de galpão…”?”
Essa outra parte só foi incorporada a música do casamento quase 40 anos mais tarde, pra ser mais exato em 1995 pelo Grupo Minuano no disco Fandango de Fronteira. Um compositor de nome Adenir Seifert criou esses outros versos e incorporou a famosa melodia dos Bertussi, só que me parece que ele aproveitou os arranjos do Manique. Então nesse disco está na contracapa: Casamento da Doralícia, de Honeyde e Adelar Bertussi adaptado por Adenir Seifert.
E foi com o Grupo Minuano que essa melodia ganhou nova vida e voltou a fazer muito sucesso. Teve um infinidade de gente que regravou essa versão adaptada como por exemplo Os Serranos.
E aí nessas regravações que se gerou as confusões entre Doralice e Doralícia, porque a pronúncia realmente fica muito parecida, principalmente na música. E vale lembrar que a música Fandango da Doralice não existe, o correto é o casamento e nesse casamento o fandango foi graúdo como o Honeyde nos contou em seu caso.