Romance na tafona é uma milonga que tem os versos de Antonio Carlos Machado e melodia de Luiz Carlos Borges. Foi apresentada ao público pelo Luiz Carlos Borges e Grupo Horizonte, no ano de 1980, na 10ª California da Canção Nativa de Uruguaiana e conquistou o 2º lugar e foi a vencedora da Linha de Manifestação Rio-Grandense.
De lá pra cá muitos artistas gravaram essa música: o próprio Luiz Carlos Borges em alguns trabalhos, Delcio Tavares, Dante Ramón Ledesma, Osvaldir e Carlos Magrão, Wilson Paim, Marcello Caminha e mais alguns outros artistas.
Pra mim, Romance na tafona é uma linda história, que fala de amor, paixão e até escravidão. E por incrível que pareça é baseada em fatos reais.
Deixa eu te contar… o compositor Antonio Carlos Machado nasceu em 1935 em Santa Maria e tinha uma ama de leite na fazenda onde morava de nome Maria. Pela proximidade quase maternal, ela deve ter contado pra ele a respeito dessa história. Aí quando tu junta uma linda história com um poeta, já sabe o que sai.
Tempos depois ele procurou o Luiz Carlos Borges pra fazer a melodia pra esse verso. O Luiz Carlos Borges disse que de vereda se emocionou com a história e disse que pra finalizar eles precisavam só um carreteiro e um vinho.
Depois de participar da California, os amigos estavam em Santa Maria, na fazenda do Antonio Carlos quando se entra no recinto uma senhora, Maria, já bem velhinha, caminhando amparada pelo filho, fruto daquele amor com Pacácio. Segundo o Borges, aquele encontro foi inusitado e muito bonito.
Então me conte aí se tu sabia que Romance na tafona era inspirada em uma história real de amor?
Agora cheio de emocionamento, bamo dar aquela lida na letra e ir explicando os ricos detalhes.
Maria, florão de negra
Pacácio o negro na flor
Se negacearam por meses
Para uma noite de amor
Aqui apresenta os dois personagens, a Maria e o Pacacácio. Que ficaram meses se olhando, se querendo, namorando a distância, os dois emponchados de ansiedade.
E convenhamos que nesse verso o autor sintetiza os sentimentos e o tempo de forma sem igual!
Na tafona abandonada que apodreceu arrodeando
Pacácio serviu a cama e esperou chimarreando
Do pelego fez colchão do lombilho, travesseiro
Da badana fez lençol fez estufa do braseiro
Tafona ou atafona é um antigo moinho de cereais, movido por tração animal. A tafona já tava abandonada e que foi utilizada até o fim, diz que apodreceu arrodeando.
O Pacácio foi a cavalo até lá, ajeitou a cama e esperou com o mate pronto. E faz dos arreios a cama. Do pelego fez colchão, do lombilho, o travesseiro, fez um lençol com a badana e fez um fogo pra manter o ambiente quente.
A tarde morreu com chuva
Mais garoa que aguaceiro
Maria surgiu na sombra
Cheia de um medo faceiro
Então já de noitita, a chuva mansa caindo, a negra Maria aparece. E pra ninguém saber que ela tinha saído, espera o véu da noite esconder os rastros dela. E acho muito lindo como é descrita como ela se sente, cheia de um medo faceiro. Com aquele frio na barriga.
A negra de amor queimava
Tal qual o negro na espera
Incendiaram de amor
A tafona, antes tapera
Aí a paixão aconteceu, incendiaram de amores a tafona. Que antes era tapera e agora é um rancho de amor.
A noite cuspiu um raio que correu pelo aramado
Queimando trama e palanque na hora desse noivado
E o braço forte do negro entre rude e delicado
Protegeu negra Maria do susto desse mandado
E lá no meio da noite, cai um raio numa cerca ali perto e a eletricidade de dissipa pelo aramado. E a negra Maria se assusta com o estrondo então o Pacácio abraça e afaga a sua amada.
Mas que coisa mais linda! É poesia pura, no mais alto nível. Inclusive o Antonio Carlos Machado lançou 3 livros de poesia, um deles é esse aqui de nome Romance na tafona.
E dá só uma olhada nessa arte aqui: Nativismo em Quadrinhos, da Revista Nativismo em março de 1983.
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