Iguaria campeira é uma vaneira de composição do Regis Marques. Foi lançada em 1996 no excelente disco Carreteadas e é a 1ª música daquele disco. 

Essa música aparece em outros discos do Grupo Rodeio. Os Serranos e vários outros grupos gravaram e é um dos maiores sucessos do Grupo Rodeio e marca certa nos churrascos domingueiros.

Segundo o Régis Marques, essa música é uma homenagem aos assadores e cozinheiros campeiros que se puxam pra entregar sempre a melhor bóia pra gauchada amiga.

Na letra de Iguaria Campeira tem vários termos bem gaúchos que valem a pena ser destacados, então bamo dar aquela destrinchada na letra.

Ao lonquear a carne gorda de um churrasco mal passado
Dou um tombo na farinha pra enxugar o sangue escaldado
Oiga-lê boia campeira pra o estradeiro estropiado
No engraxar do bigode golpeio a guampa de canha
Dando um tempero especial as refeições da campanha

Esses versos são uma cena que a gente consegue ver. O vivente cortando um pedaço de um churrasco e dando aquela passada na farinha.

Lonquear é tirar um lonca, um pedaço. Vale lembrar que o termo lonquear é aplicado aos guasqueiros que é justamente o ato de tirar uma lonca, um pedaço de couro de couro pra utilizar nos preparos. Mas aqui na música tá de forma figurada só no sentido de pedaço de carne.

E tem uma outra curiosidade em “Dou um tombo na farinha pra enxugar sangue escaldado” É bem comum associar esse vermelho da carne mal passada com sangue. Na verdade o que dá o tom vermelho a carne é a mioglobina, que é uma proteína natural da carne. E aquele suco da carne é água. Pra gente ter ideia a carne bovina é composta mais de 70% de água.

Depois aparece o termo guampa de canha, que é essa peça aqui. Uma guampa bovina preparada pra guardar líquidos.

Vamo encostando a carreta, talhando espeto em taquara
Campeia a lenha pra o fogo, espeta os chibos nas varas
Apruma a trempe pro mate, aquento o arroz carreteiro
Depois de bucho cinchado, seguimos estrada parceiro

Aqui é uma referência aos carreteiros, que faziam o transporte de mercadorias e tantas outras coisas pela campanha gaúcha. Então quando eles paravam pra almoçar, tinha o seguinte ritual.

Pegar uma taquaras e talhar uns espetos nelas. Buscar a lenha pro fogo e espetar os chibos nas vara ou seja as carnes de ovinos. Zootecnicamente, chibo é o ovino macho novo, não capado.

A trempe é o tripé que vai sob o fogo, onde geralmente se tem a chaleira pendurada e de quando em vez um panelão de arroz, como é citado nessa música.

Então depois de satisfeito, de bucho cinchado, recolhem as ferramentas e seguem a estrada. É interessante que o termo cinchado vem da cincha, que é o que prende os arreios ao cavalo. Aqui se usa no sentido de estar ajeitado, ajustado.

Picando a manta de charque o arroz na panela preta
É receita à moda antiga no rangido da carreta
Mateando e contando causos de bailantas e carpetas
No engraxar do bigode golpeio a guampa de canha
Dando um tempero especial às refeições da campanha

Neste verso é apresentada a receita mais tradicional dos carreteiros, o arroz de carreteiro. Feito de charque e arroz. É interessante que essa receita atende os requisitos de quem viajava por muito tempo. A carne seca, desidratada, do charque fica sem estragar por longos períodos, da mesma forma o arroz.

Outra coisa é o preparo do carreteiro que é feito todo em uma só panela. Joga os ingredientes dentro, coloca água e deixa o fogo terminar. Comida rápida, saborosa e que dá sustância pros carreteiros seguirem viagem.

Fala em rangido da carreta. Pra quem já viu uma carreta dessas antigas, quando elas rodavam, iam rangendo, pois o eixo e as rodas eram feitos de madeira.

Outro costume dos carreteiros a hora que paravam era matear e contar as histórias seja de bailes e amores ou até de carpetas, de jogo, baralho. É interessante que carpeta, é o carpete, o tecido que cobre as mesas e por consequência acabamos chamando de carpeta qualquer jogo de cartas..

Em Iguaria Campeira, é cantada os modos mais simples do gaúcho assar carne e fazer uma refeição quando está na estrada ou a campo fora. Seja um churrasco espetado nas taquaras ou um carreteiro na trempe.

São receitas que saíram da estrada, entraram pros ranchos e hoje fazem parte da cultura de todos os gaúchos!

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