Esta música é um dos maiores sucessos da dupla César Oliveira e Rogério Melo. É uma rancheira que tem letra do Anomar Danúbio Vieira e música do Rogério Melo.

E já quero agradecer a esse grande poeta do nosso nativismo Anomar Danúbio Vieira que me atendeu de prontidão e me esclareceu algumas dúvidas a respeito da letra. Mil gracias, Anomar!

Foi lançado em 2005 no álbum Apaysanado: Anomar Danúbio Vieira nas vozes de César Oliveira e Rogério Melo. É a faixa de número 7. Só que ela estourou mesmo em 2006 no excelente DVD da dupla de nome Pátria Pampa.

E te garanto que por mais que já deve ter ouvido essa música uma centena de vezes, aposto que tem alguns termos que passaram despercebidos. Então bamo as explicações.

Não afroxemo nem os lançante
Pois semo loco de dá com um pau
Cruzemo a nado se o rio não dá vau
Neste mundo véio flor de cabuloso

Lançante são os morros. Os terrenos íngremes, aqueles perau cheio de pedra véio que dá tontura de olhar. Só que é utilizado quando o campeiro está descendo este terreno. Se ele estiver subindo, seria repecho.

 Dar vau é dar travessia num rio. É a parte mais rasa, onde dá pra cruzar sem precisar nadar.

Flor de cabuloso não é a flor da árvore cabulosa. Flor é utilizado como advérbio de intensidade e cabuloso é no sentido de ser sestroso, caborteiro, traçoieiro. Mundo véio difícil de lidar…

E o mala bruja quando esconde o toso
Nós esporiamo bem no sangrador
Em rancho de china, se campiamo amor
Entremo sem sono e garantimo o poso

Mala bruja é uma expressão castelhana pra pessoa ruim. Mas pode ser aplicada aos animais, como nesse caso. Mala bruja é um cavalo veiaco que esconde o toso ou seja, abaixa a cabeça pra tentar derrubar o ginete.

Mas é esporeado no sangrador, pra que o ginete retome o controle sob o animal.

Sangrador é chamado esse local que dá acesso ao coração, por onde é sangrado os animais na hora do abate.

Campear amor em rancho de china e garantir o poso, mesmo estando sem sono é pra contar que o campeiro é bem sucedido na arte do namoro também.

Semo medonho no cabo da dança
Gostemo mesmo é do bochincho grosso
Que é pra sair tramando o pescoço
Ao trote largo nalguma rancheira
E bem campante, levantando poeira
Coisa gaúcha, vício de campanha
Limpemo a goela num trago de canha
Pois semo loco de lá da fronteira

Ser medonho no cabo da dança é ser dançador a reviria, ou como se diz mais pra fronteira, el bailarin.

Bochincho grosso é um sinônimo pra uma bailanta, só que não tão familiar. Até por que tramar o pescoço é se ajeitar com uma prenda bem dançadeira, que dance com o rosto coladito e o pescoço quase tramado.

Bem campante é bem faceiro, alegre, satisfeito. Levantando a poeira, pq é um baile de campanha, de chão batido e quando se dança uma rancheira bem ligeira, faz a polvadeira subir.

E como bem sabemos nada melhor que uma canha pra tirar a poeira da goela.

Semo bem loco…Loco de Bueno
Mas temo veneno na folha da faca
Quando o sangue ferve viremo a cabeça
Por Deus, paysano…! Ninguém ataca

Este é o refrão que é cantado a todo berro e ainda de vez em quando sai uns sapucai meio de atravessado. É um retrato do povo da fronteira. Gente buena, mas não facilite que são valente e não se dobram.

E pra quem não sabe, a folha da faca são as laterais da lâmina;

Paysano é um termo que tem mais de uma aplicação. Pode ser aquele que que não é militar ou que não está com vestes militares, que está a paisana. Mas aqui neste verso está sendo utilizado como o mesmo que patrício, pessoa da mesma pátria, do mesmo lugar.

Nós semo loco de lá da fronteira
De raça tranquila, mas de pouca cincha!
E de vereda quando o lombo incha
Saiam de perto, que a xucreza é tanta
Cremo em percanta que seja percanta
Apartemo os maula pra outra invernada
E a nossa bebida mais sofisticada
É canha gelada, num samba com Fanta

Ser de pouca cincha é ser de pouca paciência. Isso é uma analogia a cincha dos arreios, por que se a gente apertar demais a cincha o cavalo negaceia.

Quando o lombo incha é uma referência a esquentar a cabeça, ficar brabo. Estufar o peito pra uma peleia.

Percanta é uma referência a mulher a qual não se tem o intuito de levar um compromisso sério.

Maula é um sinônimo pra pessoas e pra animais que são ruins, que não prestam. Por isso que são apartados, ou seja separados pra outra invernada, outro lugar. 

Canha é cachaça e samba é a mistura dela com o refrigerante. Também o povo utiliza o termo “cortar a canha” quando dá essa misturada. Se faz isso também com vinho, o famoso pé sujo.

Nós semo loco, mas não semo bobo
Semo parceiro de quem é parceiro
Nas horas brabas e no entrevero
Nunca dexamo um amigo solito
Pode ser feio… pode ser bonito
Mas é nosso jeito de levar a vida
Por ser de campo e de gostar da lida
É que volta e meia nós preguemo o grito.

Por isso semo bem loco… looooco de bueno! Essa marca é buena por demais e represente bem as características dos gaúchos. Valentes, destemidos, simples e companheiros.

E aí… faltou algum termo ou tem algum outro entendimento sobre alguma frase, bamo prosear aí nos comentários e ajudar o Linha Campeira a esparramar ainda mais essa nossa rica cultura mundo afora.

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